CAÇADA DE INTOLERÂNCIA: Uma investigação jornalística sobre a violência policial contra terreiros durante as buscas por Lázaro Barbosa
Tarde do dia 19 de junho de 2021 - O manifesto.
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Veja íntegra da nota dos representantes de religiões de matrizes africana, publicado e divulgado em veículos de notícias, como G1 e Correio Braziliense:
As autoridades afro tradicionais e organizações representativas dos povos tradicionais de Matriz Africana, abaixo assinadas, vêm a público manifestar seu repúdio aos violentos ataques racistas praticados contra as casas de matrizes africanas na Região de Águas Lindas, Girassol, Cocalzinho e Edilândia em Goiás, na tentativa de nos vincular ao foragido conhecido como Lázaro e aos crimes a ele atribuído.
Consideramos intoleráveis as invasões e abordagens policiais truculentas injustificadas, bem como a campanha difamatória propagada por diversos veículos de comunicação.
Afirmamos veementemente que nossas tradições não têm relação com atos criminosos, e, mesmo que fossem praticados por alguma pessoa que pertencesse a uma tradição afro, não nos vincularia de maneira coletiva a atos e ações criminosas e desumanas. Estes atos devem ser sempre atribuídos pela lei à pessoa civil.
Entretanto, estamos sendo atacados de maneira vil e racista sob o falso pretexto de estarmos servindo de abrigo ao foragido.
São graves os relatos de depredação dos nossos territórios mediante intimidação e agressões físicas.
As imagens dos alegados “rituais satânicos” que estão sendo divulgados pela mídia foram produzidas pela própria polícia durante uma invasão e quebra das portas de uma de nossas casas.
O que de fato estas imagens retratam são elementos sagrados de nossas divindades, especificamente ligadas ao culto ao Orixá Exu e aos exus guardiões de Umbanda. Estes apetrechos nunca pertenceram ao procurado e nem tampouco guardam relação com o satanismo, referência que não faz parte da cosmogonia e mitologia afro.
Trata-se de um vilipêndio ao nosso culto e aos nossos valores civilizatórios, sendo inclusive registrado o Boletim de Ocorrência nº 19925673, Estado de Goiás, Secretaria de Segurança Pública, em 18/06/2021.
Quando uma de nossas comunidades é atacada todas se sentem igualmente agredidas. Nossa visão de mundo, nossos princípios e valores civilizatórios merecem respeito.
Tamanha violência só se torna possível fundamentada no racismo estrutural presente em nossa sociedade. E por razão deste todos os nossos símbolos e vivências continuam sendo alvo de diversas violações.
Exigimos que o assédio e violação dos nossos espaços cessem imediatamente com a apuração e responsabilização das forças policiais pelas agressões a nós impostas.
Exigimos que o Estado Brasileiro, laico em sua constituição, garanta a liberdade e integridade dos nossos territórios tradicionais, liturgias e referenciais de mundo afro centradas.
Exigimos também que os meios de comunicação de massa param de vincular ideias negativas e criminosas a nossas casas e tradições, inclusive com a divulgação deste manifesto.
Apoiamos o esforço policial em consonância com os ditames legais na garantia da segurança de toda sociedade, respeitando toda nossa diversidade, no efetivo cumprimento do dever que lhe é imposto.
Por fim, nos solidarizamos com as vítimas e familiares dos acontecimentos brutais tão amplamente divulgados e nos colocamos à disposição para quaisquer esclarecimentos e apoio à toda sociedade.
Que seja feita justiça! Reparação já
Águas Lindas de Goiás, 19 de junho de 2021.
Assinam este manifesto as lideranças, organizações e unidades tradicionais abaixo: Tata Ngunzetala – Tumba Nzo Mona Nzambi; Pai André de Yemanjá – Terreiro Estrada da Vida; Babá Eduardo Fomo de Omolu, Ilê Asé Esin Fadaká; Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de matriz Africana – FONSANPOTMA; Babá Dídio de Ogum – Axé Imùná; Ilê Axé Odé Erinlé - Pai Ricardo César de Oxóssi; Baba Obalajô – Ilê Asé Egbé Alááfin Oyo; Mãe Abadia de Ogum – Axé Ogum Onilè Dubo; Iya Monna Janaina – Ilê Axé Morada; Iyalorisá Ana Paula Ti Osún - Centro de Cultura e Arte Axé da Casa Amarela- Aladé Osún; Mãe Bel do Ilé Axé Olona ; Dirigente Ruan Frederic Neves Ribas - Tenda de Umbanda São Gerônimo e Santa Bárbara, Mãe Fátima – Aldeia dos Encantados.