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CAÇADA DE INTOLERÂNCIA: Uma investigação jornalística sobre a violência policial contra terreiros durante as buscas por Lázaro Barbosa

19 de setembro de 2021 - Pulando a cerca.

A rotina é descrita como tranquila no terreiro de Mãe Bel, localizado no vale da região rural de Girassol. Ilé Àse Olónà, templo de candomblé, foi inaugurado há cerca de dois anos. O local é mais afastado de outras casas ou chácaras. Por isso, ao redor, estão apenas pássaros, árvores e um córrego ao fundo.


Um integrante do terreiro, que se apresenta como “filho” da mãe de santo, de 15 anos de idade, nos recebeu com um copo d'água. Ao longo da nossa conversa, me conta sobre a paixão por fotografia e mostra alguns de seus trabalhos. Em seu acervo pessoal, tem fotos dos pássaros, das plantas, da Mãe Bel, de alguns eventos e cerimônias e, principalmente, do incrível pôr do sol que o local oferece para aqueles que visitam o templo religioso, por volta das 17h.

Foto: Mãe Bel admira a vista do local, onde se localiza o templo religiosos. 

 

A energia calma é totalmente diferente da época da busca por Lázaro, como descreve Mãe Bel. O local virou alvo de invasões e perseguição. No sábado do dia 19 de junho, policiais pularam a cerca e invadiram a propriedade sem nenhum aviso. Não foi apresentado qualquer mandado. Mesmo que a casa não tenha sido arrombada, a ação dos policiais não deixou de ser agressiva. Quando se deu conta, os policiais já estavam na sua cozinha, revirando gavetas e armários:
 
— Os policiais diziam que entravam porque Lázaro poderia estar perto do córrego d'água. E, se era esse o tal motivo para invadirem, por que eles estavam procurando o criminoso no armário da minha cozinha?

Mãe Bel, de 57 anos, é uma pessoa vibrante, adora conversar e contar histórias. Recebe em seu local de braços abertos, abraço caloroso, de forma cuidadosa. Mas, ao contar sobre o que aconteceu no dia 19 de junho, mudou o tom da voz. As lembranças e a revolta pela intolerância a deixam inquieta, sua fala fica tomada por tristeza com as lembranças das marcas da intolerância que entraram em seu ambiente sagrado.

Ela reafirma que a forma como ela e seu filho foram tratados não tem justificativa. Quando viram os agentes no local, tentaram colaborar. O adolescente começou a oferecer água para os policiais e perguntar se precisavam de ajuda com alguma coisa. Mãe Bel sabia que a situação não era boa e que estava sendo tratada como suspeita de abrigar um criminoso foragido. E quando viu aqueles homens mexendo, sem qualquer tipo de respeito, em seus armários e cômodas, pediu para que eles fossem embora e procurassem o Lázaro no córrego, como haviam dito. Na casa dela, dentro de um armário de cozinha, ela tinha certeza de que não haveria nenhuma pista sobre essas buscas.


“Relações com seitas”

 

Ao longo daqueles dias de buscas, os terreiros da Mãe Bel e de outros amigos ao redor receberam a visita ou invasão de agentes. Os homens que entraram no local não estavam lá para proteger moradores, mas procurar qualquer tipo de associação do Lázaro com as religiões de matrizes africanas.


Tudo começou, após a associação da figura do foragido, por notícias falsas, ser associada a rituais religiosos. Neste mesmo dia, Mãe Bel e alguns outros líderes religiosos, que passavam pela mesma situação, escreveram uma nota de repúdio à situação. Entre as linhas do texto, há o sentimento de dor e revolta. Mãe Bel reforça que nada justifica a forma como foram tratados, policiais apontando armas para ela e seu filho, desrespeitando espaços sagrados, quebrando cercas e invadindo casas. Aquilo não era uma busca e sim uma forma de procurar um culpado:
 
— Não queremos que associem a nossa imagem de sacerdotes, de uma religiosidade ancestral, a um criminoso.

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Em casos de crimes de discriminação, agressão ou ofensas contra religiões, liturgias e cultos,

o Disque Direitos Humanos (Disque 100) atua como um “pronto socorro” dos direitos humanos e atende graves situações de violações. O serviço funciona diariamente, 24 horas, por dia, incluindo sábados, domingos e feriados. As ligações podem ser feitas de todo o Brasil por meio de discagem direta e gratuita, de qualquer terminal telefônico fixo ou móvel, bastando discar 100.

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